terça-feira, 15 de novembro de 2011

Estudo das Emoções: Tristeza I


TRISTEZA
A tristeza é uma emoção de longa duração, que temos medo de sentir, porque  é proveniente de uma experiência de perda. E da mesma forma que dizemos que “errar é humano” também podemos dizer que “perder é humano”!


A perda e o pesar
Qualquer que seja a perda: um brinquedo, uma disputa, dinheiro, emprego, um amor, o trem.... Seja o que for, qualquer perda entristece. Em maior ou menor grau, não importa, uma perda é uma perda. E a perda nos traz o sentimento do pesar. Como explica Jeremy Ross, o pesar significa medir  na balança o saldo da sua perda. Assim,  se a perda for grande ela causará uma grande tristeza.
A emoção da tristeza produzirá respostas comportamentais diversas, conforme seu grau de intensidade, conforme as características de cada ser humano, ou seja, conforme cada situação. O choro é a primeira resposta que nos vem à mente. Qualquer bebê chora quando a mãe se afasta e ele sente que “perdeu” a sua presença! A manifestação do choro é infantil, é feminina, diz a sociedade, que ensina que homem não pode chorar. Mas isso é verdade? Felizmente esse conceito parece estar sendo deixado para as civilizações menos “informadas”!

Por que a perda gera tristeza?
Nós humanos, quando gostamos de alguma coisa ou de alguém, tendemos a desenvolver um sentimento de posse permanente! Aqui começa o erro! O Budismo nos ensina o conceito da impermanência. E este é o grande remédio para o apego. Tudo muda, nada permanece, nada é para sempre. Diz o ditado: “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”. Podemos simplificar dizendo que a cura da tristeza passa pelo desapego. Entretanto, é enorme a quantidade de lixo que guardamos, com medo de sofrer!
Algumas perdas  passam pelo descuido!  Hoje em dia é comum as pessoas perderem coisas (ou pessoas – relacionamentos), pois na verdade, não as valorizam o suficiente para assumir a reponsabilidade de guardá-las, de cuidar delas. Então, só acabarão notando a sua importância no momento da perda, e aí, será tarde de mais

A expressão  da tristeza
Mesmo  que  o choro seja proibido (à rainha Elizabeth da Inglaterra, não é permitido que chore em público), as feições da pessoa triste não podem ser proibidas, mesmo porque, a expressão facial de uma pessoa triste é tão evidente, que mesmo que queira, ela não a conseguirá reprimir.
As pálpebras ficam pesadas, as pupilas sobem mostrando o branco dos olhos na parte inferior, as sobrancelhas se unem formando um vinco vertical entre elas, e ficam obliquamente posicionadas revelando a tristeza.  E os cantos da boca apontam para baixo!
Muitas vezes, a pessoa ainda poderá se ressentir pela perda com acessos de raiva, culpando o outro por sua perda, eximindo-se da responsabilidade, ou ainda pode ficar com raiva de si mesma, por achar que não fez nada para impedir sua própria perda, mesmo que essa não fosse uma possibilidade real. Podem ainda negar a perda, pois “Eu não merecia isso!!!” Outra possibilidade  é querer se isolar, ou ao contrário, buscar companhia, nem que para isso ela tenha que usar de manipulação.


É preciso sofrer corretamente!
(Há formas “erradas” de sofrer)
Muitas vezes,  observamos que o tamanho do sofrimento da pessoa não é proporcional ao volume de sua perda. Isso ocorre por um processo de  acúmulo. Pessoas que não expressam seus sentimentos tendem a acumulá-los, ate que explodem! É a famosa gota d’água que transborda o copo. Seu histórico anterior determinará a explosão final. Assim perdas acumuladas serão sentidas no momento que uma pequena perda ocorrer. E daí, a proporção da reação será aparentemente exagerada. Elaborar as perdas menores nos prepara para os acontecimentos mais difíceis e inevitáveis da vida.
Há ainda  pessoas  tão apegadas a ponto de  temer a perda do objeto de seu apego a qualquer momento, e dessa forma antecipam o sentimento de perda ficando tristes de forma permanente e crônica, o que já pode ser chamado de estado depressivo, pois trata-se de uma emoção patológica,  criada pela mente.
Muitos escondem suas emoções por achar que isso é sinal de fraqueza. Buscam até remédios que escondam suas expressões de tristeza, e medicam-se inadequadamente, achando que dessa forma, tudo estará resolvido.
Alguns evitam se relacionar ou assumir compromissos com outras pessoas por temer a perda e consequente, vivenciar da tristeza.  
Já, aqueles que gostam de telenovelas melodramáticas, são pessoas que gostam de vivenciar a tristeza, mesmo que não lhes pertença de fato.
Crianças devem aprender a lidar com as pequenas perdas. Privar   a criança de  vivenciar sua pequenas perdas usando de fantasias e subterfúgios, é uma forma de retardar seu desenvolvimento emocional. Quem nunca percebe uma perda não está preparado para perder o mínimo, e isso pode ser muito perigoso, pois como já foi dito, no processo da vida, perdas são inevitáveis.

Depressão x tristeza
A depressão, como já foi dito, é uma emoção patológica,  considerada um problema mental que pode ser gerado por uma disfunção química do cérebro. Ela é uma forma de tristeza potencializada, onde  parece não haver propósito para o sofrimento, pois nada pode ser feito para recuperar o que foi perdido, mesmo porque, muitas vezes, nada de muito valioso foi perdido.
 O distúrbio mental dura muito mais do que a simples tristeza e não deixa espaço para que outra emoção ocorra. A pessoa está constantemente triste, aconteça o que acontecer. Ela não ri. O deprimido não consegue manter o ritmo normal de sua vida, não trabalha, não se diverte, não vive verdadeiramente.  Há a perda da autoestima, o sentimento de culpa, a vergonha. Não há aprendizado porque não há evolução.



É preciso expressar a dor
As pessoas precisam ser medicadas nos casos da depressão, para aliviar a dor. Já que a dor é aliviada, a expressão da dor deixa de existir. Mas a expressão da dor é extremamente importante e faz parte até do processo de sobrevivência do ser humano.
Muitos escondem suas emoções por achar que isso é sinal de fraqueza, mas  o homem é programado para reagir à emoção com emoção. Quando percebemos uma expressão triste no rosto de alguma pessoa, também nos emocionamos. Frequentemente somos capazes de chorar junto, mas o importante mesmo é que, quando nos emocionamos com a tristeza de outra pessoa, procuramos consolá-la. Isso faz com que nos sintamos bem, nobres, úteis. E a pessoa que se beneficia da nossa solidariedade, inicia dessa forma, o processo de transformação de seu sofrimento. O apoio social e atenção dos amigos e da família é que realmente curam. O consôlo é necessário, assim como o vivenciar do luto.

O sofrimento traz aprendizados.
Cada evento triste é importante porque prepara a pessoa para vivenciar a próxima tristeza com maior facilidade.  O sofrimento nos faz aprender a compartilhar quando sentimos a necessidade de falar da nossa dor. Ele também nos faz aprender a aceitar que não podemos controlar tudo nem todos, ao mesmo tempo que nos traz a grande sabedoria contida no ato de desapegar-se. A expressão da tristeza enriquece as experiências das pessoas a respeito do significado da própria perda e da vida, permitindo que elas reconstruam seus próprios recursos e conservem suas energias.
Desabafar, ser ouvido, ouvir, ajuda a transformar a tristeza sem cair na fantasia. A própria raiva quando  presente, pode atuar como um remédio que  impulsiona ao auto resgate de volta para a alegria.


O luto
O luto faz parte do processo de transformação gerado pela perda. Durante o luto podemos chorar, gemer, falar do objeto perdido, ficar recolhidos ou buscar companhia. Dessa forma temos tempo de pensar, de pesar a perda, de compreender a perda, de aliviar a dor, dando tempo ao tempo, acreditando no processo natural da transformação ligado a uma única verdade: o fenômeno da impermanência de todas as coisas.

A expressão da tristeza pode parecer insuficiente para auxiliar um depressivo clinicamente diagnosticado, pois nos casos de tristeza patológica, a solidariedade, o carinho e atenção dos amigos e entes mais queridos, não serão suficientes, mas certamente, se cercados dos recursos que a ciência pode proporcionar, o constante consolo poderá ser de grande valia.


Até a próxima!

3 comentários:

Drika disse...

Danilo, adoreiiiii, muito bom! Falou tudo e acredito que as pessoas que irão ler entenderão essa questão da tristeza que é importante para nós, mas que não podemos permanecer nela. Bjs e fique com Deus!

Maria Ester Moser disse...

Sou uma pessoa permanentemente triste e isso é terrível, pois nese caso o tempo não cura. Pode me ajudar?

Danilo Marques Junior disse...

Ola Maria.

Prazer em falar com vc!!!

Realmente temos quadros cronicos emocionais que ficam instalados dentro da gente que na qual precisamos entrar em contato e coragem para pode trabalhar de frente. Se quiser, estamos disposição através do email - danilo-junior@uol.com.br

Abs