TRISTEZA
A tristeza é uma emoção de longa duração, que temos medo de sentir, porque é proveniente de uma experiência de perda. E da mesma forma que dizemos que “errar é humano” também podemos dizer que “perder é humano”!
A perda e o pesar
Qualquer que seja a perda: um brinquedo, uma disputa, dinheiro, emprego, um amor, o trem.... Seja o que for, qualquer perda entristece. Em maior ou menor grau, não importa, uma perda é uma perda. E a perda nos traz o sentimento do pesar. Como explica Jeremy Ross, o pesar significa medir na balança o saldo da sua perda. Assim, se a perda for grande ela causará uma grande tristeza.
A emoção da tristeza produzirá respostas comportamentais diversas, conforme seu grau de intensidade, conforme as características de cada ser humano, ou seja, conforme cada situação. O choro é a primeira resposta que nos vem à mente. Qualquer bebê chora quando a mãe se afasta e ele sente que “perdeu” a sua presença! A manifestação do choro é infantil, é feminina, diz a sociedade, que ensina que homem não pode chorar. Mas isso é verdade? Felizmente esse conceito parece estar sendo deixado para as civilizações menos “informadas”!
Por que a perda gera tristeza?
Nós humanos, quando gostamos de alguma coisa ou de alguém, tendemos a desenvolver um sentimento de posse permanente! Aqui começa o erro! O Budismo nos ensina o conceito da impermanência. E este é o grande remédio para o apego. Tudo muda, nada permanece, nada é para sempre. Diz o ditado: “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”. Podemos simplificar dizendo que a cura da tristeza passa pelo desapego. Entretanto, é enorme a quantidade de lixo que guardamos, com medo de sofrer!
Algumas perdas passam pelo descuido! Hoje em dia é comum as pessoas perderem coisas (ou pessoas – relacionamentos), pois na verdade, não as valorizam o suficiente para assumir a reponsabilidade de guardá-las, de cuidar delas. Então, só acabarão notando a sua importância no momento da perda, e aí, será tarde de mais
A expressão da tristeza
Mesmo que o choro seja proibido (à rainha Elizabeth da Inglaterra, não é permitido que chore em público), as feições da pessoa triste não podem ser proibidas, mesmo porque, a expressão facial de uma pessoa triste é tão evidente, que mesmo que queira, ela não a conseguirá reprimir.
As pálpebras ficam pesadas, as pupilas sobem mostrando o branco dos olhos na parte inferior, as sobrancelhas se unem formando um vinco vertical entre elas, e ficam obliquamente posicionadas revelando a tristeza. E os cantos da boca apontam para baixo!
Muitas vezes, a pessoa ainda poderá se ressentir pela perda com acessos de raiva, culpando o outro por sua perda, eximindo-se da responsabilidade, ou ainda pode ficar com raiva de si mesma, por achar que não fez nada para impedir sua própria perda, mesmo que essa não fosse uma possibilidade real. Podem ainda negar a perda, pois “
Eu não merecia isso!!!” Outra possibilidade é querer se isolar, ou ao contrário, buscar companhia, nem que para isso ela tenha que usar de manipulação.
É preciso sofrer corretamente!
(Há formas “erradas” de sofrer)
Muitas vezes, observamos que o tamanho do sofrimento da pessoa não é proporcional ao volume de sua perda. Isso ocorre por um processo de acúmulo. Pessoas que não expressam seus sentimentos tendem a acumulá-los, ate que explodem! É a famosa gota d’água que transborda o copo. Seu histórico anterior determinará a explosão final. Assim perdas acumuladas serão sentidas no momento que uma pequena perda ocorrer. E daí, a proporção da reação será aparentemente exagerada. Elaborar as perdas menores nos prepara para os acontecimentos mais difíceis e inevitáveis da vida.
Há ainda pessoas tão apegadas a ponto de temer a perda do objeto de seu apego a qualquer momento, e dessa forma antecipam o sentimento de perda ficando tristes de forma permanente e crônica, o que já pode ser chamado de estado depressivo, pois trata-se de uma emoção patológica, criada pela mente.
Muitos escondem suas emoções por achar que isso é sinal de fraqueza. Buscam até remédios que escondam suas expressões de tristeza, e medicam-se inadequadamente, achando que dessa forma, tudo estará resolvido.
Alguns evitam se relacionar ou assumir compromissos com outras pessoas por temer a perda e consequente, vivenciar da tristeza.
Já, aqueles que gostam de telenovelas melodramáticas, são pessoas que gostam de vivenciar a tristeza, mesmo que não lhes pertença de fato.
Crianças devem aprender a lidar com as pequenas perdas. Privar a criança de vivenciar sua pequenas perdas usando de fantasias e subterfúgios, é uma forma de retardar seu desenvolvimento emocional. Quem nunca percebe uma perda não está preparado para perder o mínimo, e isso pode ser muito perigoso, pois como já foi dito, no processo da vida, perdas são inevitáveis.
Depressão x tristeza
A depressão, como já foi dito, é uma emoção patológica, considerada um problema mental que pode ser gerado por uma disfunção química do cérebro. Ela é uma forma de tristeza potencializada, onde parece não haver propósito para o sofrimento, pois nada pode ser feito para recuperar o que foi perdido, mesmo porque, muitas vezes, nada de muito valioso foi perdido.
O distúrbio mental dura muito mais do que a simples tristeza e não deixa espaço para que outra emoção ocorra. A pessoa está constantemente triste, aconteça o que acontecer. Ela não ri. O deprimido não consegue manter o ritmo normal de sua vida, não trabalha, não se diverte, não vive verdadeiramente. Há a perda da autoestima, o sentimento de culpa, a vergonha. Não há aprendizado porque não há evolução.
É preciso expressar a dor
As pessoas precisam ser medicadas nos casos da depressão, para aliviar a dor. Já que a dor é aliviada, a expressão da dor deixa de existir. Mas a expressão da dor é extremamente importante e faz parte até do processo de sobrevivência do ser humano.
Muitos escondem suas emoções por achar que isso é sinal de fraqueza, mas o homem é programado para reagir à emoção com emoção. Quando percebemos uma expressão triste no rosto de alguma pessoa, também nos emocionamos. Frequentemente somos capazes de chorar junto, mas o importante mesmo é que, quando nos emocionamos com a tristeza de outra pessoa, procuramos consolá-la. Isso faz com que nos sintamos bem, nobres, úteis. E a pessoa que se beneficia da nossa solidariedade, inicia dessa forma, o processo de transformação de seu sofrimento. O apoio social e atenção dos amigos e da família é que realmente curam. O consôlo é necessário, assim como o vivenciar do luto.
O sofrimento traz aprendizados.
Cada evento triste é importante porque prepara a pessoa para vivenciar a próxima tristeza com maior facilidade. O sofrimento nos faz aprender a compartilhar quando sentimos a necessidade de falar da nossa dor. Ele também nos faz aprender a aceitar que não podemos controlar tudo nem todos, ao mesmo tempo que nos traz a grande sabedoria contida no ato de desapegar-se. A expressão da tristeza enriquece as experiências das pessoas a respeito do significado da própria perda e da vida, permitindo que elas reconstruam seus próprios recursos e conservem suas energias.
Desabafar, ser ouvido, ouvir, ajuda a transformar a tristeza sem cair na fantasia. A própria raiva quando presente, pode atuar como um remédio que impulsiona ao auto resgate de volta para a alegria.
O luto faz parte do processo de transformação gerado pela perda. Durante o luto podemos chorar, gemer, falar do objeto perdido, ficar recolhidos ou buscar companhia. Dessa forma temos tempo de pensar, de pesar a perda, de compreender a perda, de aliviar a dor, dando tempo ao tempo, acreditando no processo natural da transformação ligado a uma única verdade: o fenômeno da impermanência de todas as coisas.
A expressão da tristeza pode parecer insuficiente para auxiliar um depressivo clinicamente diagnosticado, pois nos casos de tristeza patológica, a solidariedade, o carinho e atenção dos amigos e entes mais queridos, não serão suficientes, mas certamente, se cercados dos recursos que a ciência pode proporcionar, o constante consolo poderá ser de grande valia.
Até a próxima!